quarta-feira, 29 de julho de 2015

PERNAMBUCO

Este actual Estado, mais concretamente a cidade do Recife e arredores, já tinha muitos povoadores portugueses, homens abastados,sobretudo do Norte, que se dedicavam à lavoura e tratamento do açúcar ou eram comerciantes mesmo antes das lutas contra os holandeses. Por isso era um porto comercial de grande movimento e, segundo as listas dos barcos que lá fundeavam ou traficavam existentes no Arquivo histórico Ultramarino, muitos deles tinham o nome de Bom Jesus de Bouças.  Por outro lado existem registos de irmãos da Confraria do Bom Jesus ali residentes desde 1655 tendo sido os primeiros Domingos Ramos e sua mulher. Estes e outros irmãos ali residentes pagavam as suas pensões à Confraria normalmente em açúcar

Após a vitória contra os holandeses na guerra travada entre 1648/49 os pernambucanos construíram uma capela a Nossa Senhora dos Prazeres da Vitória que posteriormente foi substituída pela imponente igreja cuja história vamos ver e ouvir:




Bom Jesus de Bouças situado no altar-mor da igreja de Guararapes
no lado do Evangelho


                                             Vista de conjunto do Altar-mor    
         
  Do lado esquerdo está a imagem do Bom jesus de Bouças e do direito a de Nossa
Senhora dos Prazeres da Vitória

Festa da Pitomba

Ainda como agradecimento foi decidido realizar, durante oito dias, a seguir à Pascoa, uma novena a Nossa Senhora dos Prazeres da Vitória, também conhecida como festa da Pitomba, como actualmente se designa por se realizar na época em que abunda a fruta com esse nome e que se realiza ainda hoje na semana a seguir à Pascoa
O primeiro dia da festa é dedicado à Nossa Senhora do Rosário; o segundo, à Nossa Senhora dos Prazeres; o terceiro, à Senhora Santa Ana; o quarto, a  São Gonçalo; o quinto, ao Bom Jesus de Bouças; o sexto, à Nossa Senhora da Soledade; o sétimo, à Nossa Senhora da Conceição; e, o oitavo, ao deus Baco (?).
A dedicação do 5º dia desta festa, que decorre sem interrupção desde 1649, ao Bom Jesus de Bouças prova que a devoção a esse Cristo, levado para o Brasil pelos portugueses, já então tinha raízes. Por outras palavras, o nosso Bom Jesus já estava presente no Brasil, concretamente em Pernambuco, no momento da libertação daquele território. Martinho da Vila tem um samba cuja letra nos lembra isso mesmo através de uma referência à festa da Pitomba.

Esta vitória foi o primeiro momento de liberdade que o Brasil viveu. Saudando esse momento deixo aqui uma música de Martinho da Vila, alusivo ao acontecimento:


BAÍA
BAÍA- Estado

No Estado da Baía, o nosso Bom Jesus também foi conhecido como Bom Jesus de Bouças. As razões disso terão sido semelhantes às que referi a respeito de Pernambuco: A fixação de colonos portugueses, muitos dos quais também irmãos da Irmandade do Bom Jesus de Bouças e que tal como em Pernambuco pagariam as suas pensões em dinheiro ou açúcar.
Neste Estado existem três locais de culto e uma escola primária com o nome do padroeiro.


Cidade de Salvador

Uma igreja,  situada no centro histórico da cidade de Salvador, que foi levantada entre 1725 e 1732 por Francisco Gomes do Rego, sob a invocação do Senhor Bom Jesus de Bouças Crucificado da Via Sacra e São Miguel.Em 1744, a igreja, juntamente com uma casa anexa, foi doada pelo fundador à Ordem 3ª. de São Francisco, com o compromisso que esta mandasse rezar anualmente, sete missas votivas.
Em 1854, a imagem do Senhor de Bouças foi colocada no sepulcro do altar e, em seu lugar, foi colocada outra do Nosso Senhor Crucificado, pertencente à igreja da Ordem 3ª. de São Francisco.
Destacam-se as imagens de Cristo na Cruz e a de São Miguel. Na fachada, um painel de azulejos policromados, com emblema da Ordem 3° de São Francisco, vindo de Lisboa por volta de 1780-90. No nicho central havia uma imagem de Nossa Senhora.Situa-se na área do Pelourinho na Ladeira de São Miguel (rua Frei Vicente), com acesso pelo Pelourinho ou pela Baixa dos Sapateiros

Exterior da capela


Interior da capela
Reconcâvo Baiano (Zona adjacente à área de Salvador)

Fazenda do Engenho de Água

Esta capela, erguida numa fazenda de cacau, terá sido construída nos finais do séc. XVIII pelo faialense Gaspar Faria Bulcão. O último e grande restauro realizou-se em 2007.


Quando fiz a primeira pesquisa encontrava-se degradada e à venda. Não consegui então contactar com os proprietários e as informações que obtive foram fornecidas pelo Arquivo Histórico da Baía. A capela estava em mau estrado e o Cristo, talhado em Roma, havia sido retirado para outra igreja. Um acaso levou-me, muito posteriormente, a descobrir que ela fora vendida e completamente restaurada e que funcionava novamente como fazenda de cacau. A casa sede destina-se agora a eventos sociais. O responsável pela recuperação, empresário Mário Ribeiro, fez um trabalho fantástico. 

Antes do restauro:


A seta indica a localização da Capela numa elevação fronteira à casa


Capela octogonal


Antigo altar-mor antes de terem retirado o Cristo

Depois do restauro:

                                             
 Capela octogonal restaurada


Bom Jesus de Bouças depois de recuperado

Por acaso encontrei na Internet um programa sobre este espaço que aqui deixo para terem uma melhor percepção da sua beleza



Dado o desconhecimento que o proprietário do local revelou sobre a origem do nome de Bouças, para que ele pudesse avaliar a preciosidade que tem na capela tive o cuidado de lhe escrever e mandar a história do nosso Cristo .

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Jacu, Terra Nova

O terceiro local de culto é a Igreja de Jacu, em Terra Nova, também no Reconcâvo baiano.É um edifício iniciado no séc.XIX e terminado no XX. 
Está em muito mau estado e fechado para obras.


Em Jacu existe uma escola primária denominada de Senhor Bom Jesus de Bouças o que faz supôr que tivesse havido por aí algum tempo uma devoção forte a este Cristo.

MINAS GERAIS

             O Estado de Minas Gerais é aquele em que a devoção ao Bom Jesus de Bouças, mas já então com o nome de Matosinhos mais se divulgou e actualmente ali existem pelo menos 24 igrejas dessa invocação. Há contudo uma excepção que ainda não consegui explicar: a existência de um altar em Cachoeira do Campo com uma imagem do Bom Jesus de Bouças numa igreja dedicada a uma outra padroeira. Praticamente todas essas igrejas foram levantadas durante o chamado Período do Ouro, a época a partir de finais do século XVII,  em que foram descobertas e trabalhadas as minas de ouro. Outras foram erguidas posteriormente. Para que se entenda toda a história é necessário fornecer alguns detalhes sobre a importância de Minas Gerais na sociedade e história da época:

         A busca do ouro atraiu muitos emigrantes a esse Estado, maioritariamente portugueses do Norte do país, incluindo Matosinhos. Esse ciclo foi muito importante em todas as áreas da vida  de Portugal e do Brasil. Enquanto o primeiro  se despovoava o segundo via a sua população aumentar. Com eles os emigrantes levaram as suas devoções e uma delas foi sem dúvida a do Bom Jesus, já com o nome de Matosinhos e não de Bouças.
            A riqueza conseguida possibilitou a construção de muitas igrejas aos santos padroeiros das novas vilas que se foram criando apoiadas por confrarias e irmandades a que os fiéis estavam ligados, muitos delas idas de Portugal. Esse facto foi importante para o aparecimento do barroco brasileiro.

Para chegar ao ouro abriu-se um caminho que saía de Parati e se dirigia para os locais onde havia sinais desse metal. Era o chamado Caminho Velho. Mais tarde, para facilitar o acesso do Rio de Janeiro às minas e também para os oficiais reais controlares a recepção do “quinto do ouro”, imposto que se tinha de pagar ao rei pelo metal recolhido, foi aberto um outro caminho o “caminho novo” que saía do Rio do Janeiro para Ouro Preto onde se encontrava com o Velho. No tempo do aparecimento das pedras preciosas esse caminho foi prolongado até Diamantina. 



Ao longo desse caminho surgiram os Pousos, locais de paragem dos que caminhavam em direcção às minas para descansarem e se abastecerem

 Pouso

Esses lugares eram frequentados pelos Tropeiros homens que, conduzindo grupos de mulas e burros, transportavam para a costa o ouro e, no regresso, levavam para Minas os abastecimentos de que as populações precisavam. Porque andavam de terra em terra funcionavam como correios. Eram também portadores de novidades entre as quais as notícias dos milagres de alguns santos.


                  Ermitão

O crescimento desses locais esteve na origem de algumas das vilas e pequenas povoações onde os colonos se instalaram, edificaram as suas casas e foram levantando igrejas. Algumas destas foram pagas através de peditórios feitos pelos ermitães, homens que andavam de terra em terra a pedir para um santo. A Confraria do Bom Jesus de Matosinhos, em Portugal, necessitada de dinheiro para completar e redecorar a nova igreja em Portugal, enviou para o Brasil, como ermitão, João Álvares de Carvalho, que aí fez duas longas viagens, através da Estrada Real, uma entre 1719 e 1723 e a segunda de 1730 (?)  a 1736 afim de recolher esmolas para a referida obra. Outro português, Feliciano Mendes estando doente prometeu, se obtivesse uma cura,  levantar uma igreja ao Bom Jesus de Matosinhos. Assim nasceu a Igreja de Congonhas que foi construída com o dinheiro recolhido pelo referido Feliciano Mendes pelos caminhos de Minas pedindo esmolas com esse fim e levando consigo um oratório do Bom Jesus de Matosinhos. Pelos locais onde passaram apareceram posteriormente algumas igrejas da devoção ao  Bom Jesus de Matosinhos
Oratório de Feliciano Mendes
                       O mais antigo ex-voto ao Bom Jesus de Matosinhos         

  O mais antigo ex-voto ao Bom Jesus de Matosinhos no Brasil  terá sido oferecido por uma dama mineira em agradecimento pela cura de um escravo seu. Por esta época ainda o ermitão português, João Álvares de Carvalho se encontrava recolhendo esmolas no espaço de Minas Gerais. 

Este ex-voto pertence ao Banco do Brasil e está exposto na sala dos Milagres do Santuário de Congonhas.
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NOTA IMPORTANTE

Como este Estado é o que tem maior número de locais de culto ao Bom Jesus de Matosinhos irei referir-me a eles num capítulo especial

OUTROS ESTADOS COM DEVOÇÃO AO BOM JESUS DE MATOSINHOS

Para além dos locais de devoção ao Bom Jesus de Matosinhos já referidos, existem mais 3 em dois estados diferentes:
São Paulo

A igreja do Brás, na cidade de S. Paulo, bairro do Brás


O bairro do Brás, situado na região central de São Paulo, nasceu como uma região de chácaras, cresceu e se desenvolveu como bairro operário e "pátria" dos imigrantes italianos, depois acolheu os migrantes nordestinos, conheceu sua decadência e deterioração urbana e hoje é conhecido como um dos principais centros do comércio popular na cidade, destino diário de milhares de sacoleiros e sacoleiras de todo o Brasil. 


A origem do Brás está ligada à figura do português José Brás. Diz a história que José Brás, proprietário de uma chácara na região, teria construído a igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em 1765, ao redor da qual se desenvolveu um povoado que daria origem ao bairro do Brás. O Cristo actual não é um Crucificado mas o Bom Jesus da Cana Verde talvez por influência da colónia italiana que ali se radicou no séc. XIX
          
            Capela antiga
              Igreja actual




                            
                             
                                                                                                                            
                             
Mogi das Cruzes  -  Igreja Bom Jesus de Matosinhos e São Bento

Inicialmente dedicada ao Bom Jesus de Matosinhos  passou à dedicação de S. Bento quando, num dia de procissão do padroeiro, a igreja ficou sem ninguém e os negros da irmandade de S. Bento que tinham sido expulsos de uma igreja onde faziam o seu culto, aproveitaram a ocasião para aí colocarem a imagem do seu padroeiro. 



Na imagem podem ver-se em cima o Bom Jesus e em baixo o São Bento

Rio de Janeiro

 Santuário de Werneck
A primeira capela do Bom Jesus de Matosinhos neste local terá sido levantada, em 1773, por portugueses oriundos de Matosinhos, lavradores do Lugar do Sardoal (Leça). Em 1862, foi substituída por uma igreja maior; de que não encontrei imagens, que subsistiu até 1959, data de construção do actual santuário
Todos os anos se faz aqui uma
grande Festa ao Bom Jesus à semelhança das nossas romarias mas que no Brasil se denominam como Jubileus









Jubileu do Bom Jesus

segunda-feira, 29 de junho de 2015

IGREJAS E LOCAIS DE DEVOÇÃO EM MINAS GERAIS

LOCAIS DE CULTO AO BOM JESUS E MATOSINHOS EM MINAS GERAIS

Minas Gerais é o grande berço brasileiro do Bom Jesus de Matosinhos. Ao longo do Caminho do Ouro e não só foram sendo levantadas inúmeras igrejas ao nosso Cristo. Neste momento tenho contabilizadas nesse estado 22 igrejas e 2 altares. Eventualmente podem aparecer mais.
A descrição que aqui vou fazer desses locais de culto tem de ser forçosamente sintética. Dado que se desconhece a data de construção de algumas dessas igrejas que foram sofrendo alterações ao longo dos tempos vou referi-las aleatoriamente. Excepção para aquela que considero ser a mais antiga (até prova em contrário).

 Igreja de Nossa Senhora da Nazaré de Cachoeira do Campo, Ouro Preto





Interior da Igreja

Esta igreja é das mais antigas de Minas. Substitui uma ermida de bandeirantes e em 1708 já nela existia uma Irmandade, a do Santíssimo Sacramento, que terá sido a responsável pelas obras


Altar do Bom Jesus de Bouças 

 A par da Irmandade do Santíssimo Sacramento existiu a Irmandade do Senhor Bom Jesus de Bouças, que terá sido a que mandou esculpir esta imagem. O historiador mineiro, Alex Bohrer, que estudou a imaginária da igreja,  inicialmente achou o nome deste orago incomum, o que permite concluir  que esta imagem não seria conhecida anteriormente pelo que poderá ter sido a primeira do Bom Jesus de Bouças naquele estado. Por isso o historiador o terá achado incomum. Contudo uma visita a Portugal permitiu-lhe desfazer a dúvida que tinha. Ele desconhecia que Bouças e Matosinhos eram dois nomes para um mesmo lugar.  Referia ainda a existência de 2 peixes nas colunas de sustentação das arquivoltas a que ele dá uma interpretação pessoal em função do seu conhecimento da simbologia local e/ou do seu conhecimento da simbólica católica ou artística. Contudo para mim esses peixes representam a origem piscatória  da terra que, em Portugal, deu o nome ao Cristo. Um pormenor distingue esta imagem das suas congéneres. Os pés deste Cristo de Bouças estão pregados com um só cravo enquanto todas as outras imagens o apresentam com os pés pregados separadamente, ou seja num total de 4 pregos. Essa diferença poderá ser imputada ao artista santeiro que o esculpiu porque todos os crucificados eram então pregados  com 3 pregos. Este pormenor mais me leva a crer que este Cristo deverá ter sido dos primeiros a serem esculpidos em Minas, talvez mesmo o primeiro, porque todas as outras que apareceram depois têm os pés pregados separadamente, tal como a imagem original portuguesa.

O meu obrigada ao Alex Bohrer que me introduziu nos segredos deste Cristo e que tive o prazer de acompanhar na sua vinda ao Matosinhos português. 

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Santuário do Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas

Já em 1736 havia irmãos da Confraria portuguesa de Bom Jesus de Matosinhos a residir em Congonhas. Em função da data referida poderiam ter-se registado como irmãos durante a passagem no local do anteriormente referido ermitão da  Confraria matosinhense, João Alvares de Carvalho, que  regressou à Portugal exactamente nesse ano.
O  Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, foi levantado pelo português Feliciano Mendes para pagar uma promessa. As obras do Santuário, possíveis pelo peditório que, como ermitão, Feliciano Mendes fez por Minas, tiveram início  em 1757. Feliciano faleceu, em 1765, sem a ver terminada. Ali trabalharam as mãos dos melhores artistas da época, como Manoel da Costa Athayde, Francisco Xavier Carneiro e o mestre Aleijadinho.


Altar Mor da Igreja do Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas

Este Altar-mor tem duas imagens. A da cruz representa um crucificado mas não é a original
Essa encontra-se num sarcófago na parte debaixo do altar-mor.



( Trata-se de uma imagem do Senhor morto que, como é articulada  permite que seja apresentada na cruz de braços abertos ou, como  neste caso, deitada) 

Na colina sob a igreja  foi levantado um conjunto de capelas da Via Sacra a que foi atribuída a categoria de Património da Humanidade.
Todos anos se realiza ali um jubileu (romaria) a 14 de Setembro, dia da Exaltação da Santa Cruz.
O video que se passa a apresentar mostra todo o conjunto de construções que compõem este Santuário e o seu entorno assim como alguns aspectos dessa festa anual. 


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Bom Jesus de Matozinhos de Conceição de Mato Dentro

Em tempos antigo trabalhava no arraial da Conceição o escravo António Angola que descobriu uma imagem de um crucificado envolto em farrapos. Um bispo em visita, sugeriu que se construísse uma igreja para abrigar a milagrosa imagem do Cristo Crucificado que recebeu a benção inaugural em 1750. O destino arquitectónico da primitiva Capela do Bom Jesus, seguiu a peculiariedade dos templos mineiros: a princípio uma modesta edificação que se transformou numa igreja, onde a antiga capela passou a fazer parte da nova composição como Capela-Mor. Em 1773, estava quase acabada só lhe faltando as torres. Nesse mesmo ano foi feita, em Lisboa, a aquisição de uma nova imagem, que é a que existe actualmente. Em 1759 criou-se no local a Irmandade do Bom Jesus de Matosinhos.

Neste templo, erguido numa elevação que dominava o povoado trabalharam artistas de renome, como Manuel da Costa Ataíde e Joaquim Pintor o qual, entre 1805 e 1811, dourou as pinturas do tecto, da capela-mor, do arco-cruzeiro e dos retábulos tendo-se inspirado para o efeito em cenas bíblicas de estampas reproduzidas em missais do século XVIII. No séc. XIX a igreja já apresentava mal conservada porque com o esgotamento das lavras do ouro não havia dinheiro para a restaurar. Então a  Confraria local decidiu edificar outro templo. Em 1927, foi lançada a pedra fundamental, e em 1934 feita a entronização da Imagem do Bom Jesus num novo templo, o actual.

Altar Mor
O conjunto do Santuário é formado pela Igreja, Convento, escadaria e pelos elementos incorporados como altar externo, que é uma obra deOscar Niemeyer, casa dos romeiros, a via-sacra e a sala dos milagres, localizada abaixo do altar monumento. 
Há mais de 225 anos se realiza a festa anual  Jubileu - de 14 a 21 de  Setembro. Os fieis reúnem-se para participar das celebrações da Eucaristia, Benção dos Enfermos, missas e orações. É também essa a altura de se cumprirem as promessas, entregar ex-votos  e fazer penitência. Pelo recinto levantam-se barraquinhas de comércio e apoio aos romeiros.

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Santuário do Bom Jesus de Matosinhos de Honório Bicalho (Nova Lima)

Este templo, localizado no distrito de Honório Bicalho, é mais uma construção setecentista cujas obras foram concluídas em 1760. A igreja passou por diversas reformas que alteraram a sua estrutura arquitectónica, mantendo, porém, as características barrocas.




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Bom Jesus de Matozinhos de Itabirito

Em 1730, um português de nome José de Oliveira, proprietário da Fazenda Munu, doou parte das suas terras, 6 hecs., à Capela Curada de Nossa Senhora da Boa Viagem de Itabira do Campo, tendo por objectivo edificar a Capela do Bom Jesus do Matozinhos e construir ao lado uma obra benemérita. Por essa época aí residiram, pelo menos, dois irmãos da Confraria metropolitana do Bom Jesus de Matosinhos. A sua construção contudo só terminou em 1765. Desde então sofreu variadas modificações.
Em 1789, a  Capela do Bom Jesus do Matozinhos alcançou do Papa Pio VI um Breve  Pontifício que regularizava a realização da festas em honra do Padroeiro e a atribuição das indulgências.

Conjunto do santuário


Igreja


Altar-mor

Tem interessantes pinturas no tecto de que se destaca uma da descida da cruz

Descida da Cruz 

O jubileu, determinado pelo Breve Apostólico, realiza-se anualmente no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz, 14 de Setembro e festeja-se desde 1789. Como entre nós é precedido por uma novena. À pequena igreja afluem romeiros provenientes de várias partes, afim de satisfazerem o cumprimento das suas promessas e prestarem homenagem ao padroeiro. Nessa altura, a Imagem é descida da cruz e colocada num esquife no meio da Igreja  para que os devotos lhe possam tocar. Isso só é possível porque, como muitas outras imagens da época, o Bom Jesus de Matozinhos de Itabirito é articulado .

Bom Jesus de Matozinhos durante o Jubileu

Em Itabirito, como no Senhor do Bonfim da Baía e a partir daí em muitas das romarias no Brasil, vendem-se "medidas" do Bom Jesus de Matosinhos. 

A "medida" é uma fita que representa o comprimento de uma imagem da cabeça aos pés. Segundo o professor Cid Teixeira, o tamanho certo é 63 centímetros. A fita serve de amuleto e varia de acordo com o santo. A fita do Senhor do Bonfim, que apareceu pela primeira vez em 1809, representa o comprimento da chaga do peito à chaga da mão esquerda do Senhor do Bonfim. As medidas eram vendidas nas festas religiosas, por pessoas autorizadas, em benefício ao santo homenageado. A maneira tradicional é usar a fita pendurada no pescoço. Amarrá-la no pulso com três nós foi invenção dos turistas
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OURO PRETO

Igreja do Bom Jesus de Matozinhos S. Miguel e Almas


Denominado primitivamente de Capela dos Sagrados Corações e São Miguel e Almas, este templo, sito no alto das Cabeças ou do Passa Dez, assim denominado, pois lá se expuseram, em postes, as cabeças dos  justiçados da Inconfidência Mineira, terá surgido a partir de uma doação, feita em 1771, pelo português José Simões Borges, morador em Congonhas.
Em 1783, foi feito novo contrato com o pedreiro Pedro Miguel Moreira Gomes para a obra das torres, responsabilizando-se também pela edificação da sacristia e calçadas de pedra. No entanto, um pouco antes de 1789, os devotos da capela que tinham assumido a continuação das obras, não tendo dinheiro para as concluir, enviaram à rainha  um requerimento para que ela os autorizasse a fazer um peditório com aquele objectivo.
Argumentando que a Capela fora levantada a fim de facilitar a prática dos sacramentos e o atendimento às Missas que anteriormente se celebravam na Matriz e cuja distância constituía um grave incómodo para a deslocação dos fiéis, e ainda que a sua construção estava atrasada por ser obra dependente de esmolas, os devotos da capela pediram à rainha D. Maria I que autorizasse  que
possão  trazer dois homens de sua ileição e de inteira saptisfassão a pedir pellos [...] de Deos por todo aquelle estado do Brazil, esmolas para o fim de  de se finalizar aquella obra e finda ella se applicar  o que se tirar para sufragio das Almas do Purgatorio.

Estas autorizações eram facilmente concedidas porquanto os peditórios por parte de esmoleres e ermitães para a construção de igrejas eram, como já tivemos oportunidade de verificar, um aspecto do quotidiano de então. Em 1793, a igreja estava praticamente concluída.
Na fachada da igreja foi colocada uma imagem de S. Miguel sobre uma base de pedra que representava as Almas do Purgatório


Representação das almas

Em finais do século XVIII, a imagem de S. Miguel foi deslocada para o cimo do sacrário e colocaram-se as do Senhor Bom Jesus de Matozinhos e de S. João Evangelista na tribuna principal, tendo o Senhor Morto sido depositado no sepulcro do altar-mor. A substituição da devoção de S. Miguel pela da Paixão de Jesus terá tido muito a ver com a importância que o Santuário de Congonhas, tão próximo de Vila Rica, passou a desempenhar na cultura religiosa de Minas. 


Altar-mor com as representações do Bom Jesus de Matozinhos e de S. Miguel. Na parte debaixo está a urna com o Senhor Morto
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Bom Jesus de Matozinhos de Rio Piracicaba

 Imagem do Bom Jesus


Os primeiros habitantes instalaram-se ali, em 1704, tendo a freguesia sido criada, em 1748, pelo bispo de Mariana, com o nome de São Miguel de Piracicaba.
A primitiva capela em honra do Bom Jesus foi construída no “arraial do morro”, a pedido de Luís Pereira da Silva. Recebeu provisão a 8 de Junho de 1771. A imagem do Crucificado foi benzida em 29 de Junho desse mesmo ano.
Em 1855, iniciou-se a construção de uma nova Matriz, tendo as obras, contudo, ficado paradas até 1869, ano em que foram reiniciadas para concluírem em 1876.
Em 1923, foi refeita a frente da velha capela, respeitando-se inicialmente a parte do antigo altar-mor que acabou por também demolido, em 1946. Nesse ano procedeu-se a nova reconstrução tendo surgido o templo actual.

  
Actual Igreja

Tecto da actual igreja

Sobre a festa ao Senhor de Matozinhos, conta-nos o mesmo autor o modo como ela se celebrava antigamente e nos nossos dias:      
A festa do Senhor Bom Jesus é celebrada aqui desde a construção da 1ª Capela e sempre é muito frequentada pelos fiéis que fazem seus pedidos e alcançam graças.
Inicia-se com uma novena no Santuário e no dia 1º de Maio é levada da Matriz a imagem de S. Miguel e todas as imagens dos Santos que ali há, em procissão com música e foguetes. Dia 2 de Maio, saiem todas as imagens, inclusive as que existem no Santuário, e em seguida a imagem de Bom Jesus que é levada para uma outra capela onde fica até ao dia 4, dia de Santa Cruz. Nesse dia volta para a Igreja e depois do Te Deum é o encerramento da festa.

Imagem do Cristo na procissão nocturna

Em Rio Piracicaba existem pelo menos dois hinos ao Bom Jesus. Desconheço as datas em que foram elaborados, mas através das suas estrofes é possível verificar a existência de uma devoção simples, mas muito profunda. Dos dois escolhi o que me pareceu mais significativo.

Hino ao Bom Jesus do Matozinhos

Oh! Bom Jesus do Matozinhos
Aqui tendes um trono em São Miguel!
Com seus humildes orfãozinhos
Piracicaba é o vosso quartel,

Ó Bom Jesus do Matozinhos
Acolhei este povo a Deus fiel
Somos os vossos irmãozinhos
Jesus de Matozinhos,

Jesus  de São Miguel!
Dai-nos a fé, ó Bom Jesus
E a nossas mentes vossa luz!

Somos Cristãos!
Somos Cristãos!

Óh! Meu Bom Jesus!
Hoje esmagado pela dor,
Mas confiando em vosso amor
Aqui nos achamos
E invocamos
Oh! meu Bom Jesus.

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Santuário do Bom Jesus de Matosinhos de S. João d' El Rei

Existe em Minas Gerais uma cidade  que fica no chamado Caminho Velho e que se chama Matozinhos. Recebeu esse nome por causa da Igreja que acolhia uma imagem do bom Jesus de Matosinhos.



A actual igreja foi construída paralelamente à destruição da anterior, barroca, situação que ainda hoje é muito contestada na cidade. O responsável por isso foi o primeiro pároco que a igreja teve e cuja irresponsabilidade o levou ainda a vender a portada da igreja a um particular de outro estado e que a aproveitou para fazer a entrada de uma fazenda. Um amigo meu dessa cidade, João Paulo Guimarães, responsável pela TV local, fez um video interessante em que se pode assistir a esse crime porque tendo  a nova sido construída junto da antiga enquanto esta era demolida se erguia a outra.  



Este video tem um valor inestimável porque permite-nos conhecer a igreja original completamente distinta da actual que foi construída com pedras da antiga mas cujo aspecto de linhas modernas choca com a imagem da anterior


Nova matriz

Imagem do Bom jesus de Matozinhos


Altar-mor em dia de Jubileu

O Culto ao Bom Jesus de Matozinhos, em S. João d'El Rei, além de antigo é muito profundo.Foi referido no primeiro video acima que, há anos atrás, o Jubileu se realizava no Pentecostes ou seja na mesma data em que ele se faz entre nós, em Portugal. A passagem do Jubileu brasileiro para Setembro foi feita de acordo com o clero brasileiro para que todas as festas ao Bom Jesus de Matozinhos coincidissem. Contudo algumas não respeitaram esse dia e optaram por outros. Mas a maioria celebra-o em Setembro.

Um obrigada ao meu irmão mineiro, José António Ávila de Vasconcelos que me ajudou muito ao longo do meu trabalho, com os seus conhecimentos e a sua devoção ao nosso comum Bom Jesus, ao João Paulo pela "cópia" do video e um agradecimento particular ao snr. Padre José Raimundo que me transmitiu força ao longo da elaboração do meu trabalho. 
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Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Matozinhos (MG)

As informações acerca da origem do povoado, que futuramente veio a ser Matozinhos, são imprecisas. Ainda assim, sabe-se que é ele um remanescente das Bandeiras (Bandeira de D. Rodrigo de Castelo Branco) e que a pedra fundamental da cidade foi lançada em data anterior a 1774, quando Inácio Pires de Miranda construiu uma capela (era filial da Matriz de Roças Grandes, fundada por Inácio Pires de Miranda em provisão de 30 de maio de 1774) em homenagem ao Senhor Bom Jesus, exactamente sobre as ruínas de um acampamento de Bandeirantes, local onde teria sido encontrada uma imagem do santo, que se tornou o padroeiro do lugar e ganhou uma capela em torno da qual surgiu o povoado sendo o local mais central de Matozinhos a partir de então.
                                  
                                            Antiga igreja 
                   

O primitivo templo foi demolido nos anos de 1920 e 1921 iniciando-se então a construção do actual, com projecto do padre italiano Sebastião Scarzelloà época vigário da Paróquia e que era também engenheiro. No coração da cidade surgiu assim a sumptuosa Matriz do Senhor Bom Jesus de Matozinhos,que foi inaugurada em 1929.
  O padre Sebastião, como era chamado, ao construir a igreja, de dimensões gigantescas para a época em que foi erigida, tentou reproduzir um templo católico existente em Milão. 
Actual Santuário



Como em Congonhas, todos os anos à volta do dia 14 de Setembro, multidões  de fiéis são atraídas a Matozinhos para venerarem o seu padroeiro nos dias do Jubileu, enchendo a praça em frente da Matriz e as ruas da cidade. Esse momento é, sem dúvida, um dos acontecimentos mais importantes na vida local.
O programa das celebrações inclui uma componente religiosa a par de outra profana. Da primeira fazem parte a novena, as missas, a procissão com quadros vivos, a visita ao Santo e à Casa dos Milagres.

Igreja em dia de Jubileu



          Bom Jesus na Procissão do Jubileu

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Igreja de Bom Jesus de Matosinhos no Serro, antiga Vila do Príncipe


Igreja de Bom Jesus de Matosinhos no Serro, antiga Vila do Príncipe

A primeira notícia que se tem acerca desta igreja é fornecida pelo historiador Cónego Raimundo Trindade, que informa ser o seu fundador o tenente José Ferreira de Vila Nova Ivo. Aires da Mata Machado, em seu relatório de pesquisa realizado pelo IPHAN, afirma ter encontrado uma alusão à existência desta igreja num livro de assentamento datado de 1785. Entretanto julgam os historiadores que a data mais concreta sobre a história deste templo, é a de 1797, inscrita em medalhão da pintura do forro da capela-mor, que atesta o estágio adiantado da construção – pelo menos desta parte do edifício - pois refere-se ao término dos trabalhos de decoração interna.

De acordo com informações fornecidas por Dario A. F. da Silva nas suas “Memórias  sobre o Serro Antigo”, os devotos de São Benedito chegaram a requerer, em 1784, provisão para erguer sua capela própria destinada a abrigar a imagem de Nossa Senhora das Mercês, mas, não se sabe porque motivos, tal iniciativa não se concretizou. Parece que os confrades das Mercês, agrupados na sua associação, desde 1734, e que se reuniam comumente na capela do Rosário, desistiram do projecto de uma igreja particular para a Irmandade, passando a colaborar na construção da igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, sob condição de ali se instalarem definitivamente. Aliás há mais um caso de ligação desta Irmandade com a de S. Bento. Isso acontece em Mogi das Cruzes no Estado de S. Paulo.De acordo com informações fornecidas por Dario A. F. da Silva nas suas “Memórias  sobre o Serro Antigo”, os devotos de São Benedito chegaram a requerer, em 1784, provisão para erguer sua capela própria destinada a abrigar a imagem de Nossa Senhora das Mercês, mas, não se sabe porque motivos, tal iniciativa não se concretizou. Parece que os confrades das Mercês, agrupados na sua associação, desde 1734, e que se reuniam comumente na capela do Rosário, desistiram do projecto de umaigreja particular para a Irmandade, passando a colaborar na construção da igreja.A igreja está erguida numa suave encosta com adro protegido por arrimo e acesso em escadaria de pedra.
Foi construída em taipa e madeira. Ao longo de todo o século XIX e mesmo do XX, a igreja sofreu sucessivos trabalhos de reforma e reedificação. Em 1907, por exemplo, para suprirem os gastos com esses trabalhos, os irmãos de S. Benedito venderam ornamentos e imagens do acervo do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, sob condição de ali se instalarem definitivamente. Aliás há mais um caso de ligação desta Irmandade com a de S. Bento. Isso acontece em Moggi das Cruzes no Estado de S. Paulo.
A igreja, como veremos mais abaixo, está erguida numa suave encosta com adro protegido por um muro e acesso em escadaria de pedra.
Foi construída em taipa e madeira. Ao longo de todo o século XIX e mesmo do XX, a igreja sofreu sucessivos trabalhos de reforma e reedificação. Em 1907, por exemplo, para suprirem os gastos com esses trabalhos, os irmãos de S. Benedito venderam ornamentos e imagens do acervo.


Altar-mor com a imagem do Bom Jesus do Serro

A igreja está profusamente decorada com cenas que representam a adoração dos Rei Magos e os Evangelistas. 
Vista geral do Altar-mor de algumas das pinturas da igreja


Mas a pintura mais importante é a do painel do forro, o medalhão central onde está representada a lendária cena do achamento, na praia de Matozinhos, em Portugal, da imagem recolhida por um grupo de pescadores, que a têm apoiada nos braços e colos, junto à rede de pesca, numa atitude cénica que fez Rodrigo Mello Franco de Andrade tomar o quadro como reprodução da clássica iconografia da “ Deposição no túmulo”. A exemplo de outras composições alusivas ao episódio da lenda de Matozinhos, a pintura serrana mostra como fundo uma paisagem marinha, podendo tratar-se de cópia de gravura portuguesa. Ouçamos e vejamos a história contada pelos habitantes locais:                          

                  
                                    Panorâmica da cidade e da igreja. 

                   No Serro não festejam Jubileu. A festa local é a do Divino.

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S. António de Piratininga (Piranga)


A 1000m de altitude, cercado por montanhas, Bacalhau ou Santo António de Pirapetinga, distrito de Piranga, contempla na parte mais alta do antigo arraial, o maior templo espiritual do Vale do Piranga: o Santuário do Senhor do Bom Jesus de Matozinhos, construído nos meados do século XVIII.   

Com a descoberta das minas de Bacalhau, em 1704, o arraial sofre um grande afluxo de aventureiros e já em 1726 o povoado ergue a sua primeira capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário.
A partir de 1740, um novo templo começa a ser erigido em invocação a S. António, o padroeiro dos mais antigos povoados da região.
Segundo uma lenda local, uma imagem do Senhor Morto foi descoberta no sítio onde hoje se situa a igreja. Resolveu a população guardá-la numa das igrejas então existentes – a de S. António ou a do Rosário. O intento foi frustrado várias vezes pois a imagem voltava sempre para o lugar onde aparecera. Ter-se-á assim decidido fazer uma nova capela para a recolher. 
Deste modo foi introduzida pelos portugueses na Capitania das Minas Gerais, a devoção ao Senhor Bom Jesus do Matozinhos que era uma das mais divulgadas na época, o que levou os seus devotos a erigirem um novo templo em estilo jesuítico, que se transformou, em 1786, através de uma bula papal, assinada por Pio VI, num santuário onde desde a penúltima década do século XVIII se promovem jubileus quase tão antigos como os de Congonhas e dotados dos mesmos benefícios espirituais. 
Este Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos é a mais tardia edificação religiosa empreendida no velho arraial. Está implantado sobre uma colina que domina todo o espaço circundante, disposição que segue a tradição arquitectónica portuguesa das capelas de peregrinação devotadas ao Senhor Bom Jesus de Matozinhos.

A construção do santuário se estendeu por seis décadas (1789-1840) contratando-se a execução do retábulo da capela-mor na virada dos anos setenta do século XVIII. 
Desconhece-se a autoria do risco da capela, podendo talvez o mesmo ter sido executado por José Coelho da Silva que ali trabalhou desde o início como carpinteiro de obras. Até fins do século XVIII e início do XIX, as obras se concentraram na parte arquitectónica, tendo os trabalhos de ornamentação se iniciado somente a partir da primeira metade do século XIX.   
A composição do frontispício é elegante e bem proporcionada. Quanto à ornamentação, a documentação mostra-se insuficiente no que diz respeito às obras de talha mas bastante rica em pintura.  


No acervo artístico deste Santuário nota-se a boa qualidade das peças que vão desde as grandes e sumptuosas imagens do altar-mor, até às “ pequenas de palmo” dos nichos dos colaterais. O retábulo da capela-mor foi contratado, em 1781, com o entalhador José de Meirelles Pinto que alterou seu coroamento por volta de 1795.
 UMA imagem mais antiga é a do Bom Jesus colocada atrás do altar-mor, da qual não há referência documental. Sua expressividade e movimentação permitem identificá-la como obra ainda ligada ao terceiro quartel do século XVIII.
                                  Imagem do Bom Jesus de Matozinhos



 O conjunto do Santuário é composto pela igreja e por casas baixas, destinadas a abrigar os romeiros na época das festas. Possuem estas duas pequenas salas contíguas e, aos fundos, uma espécie de varanda, onde se encontra o equipamento básico para a sua utilização: fogão de lenha e mesa. 
Conjunto de casas para romeiros 

A Irmandade e o Jubileu do Bom Jesus de Matozinhos.
Não se pode precisar a data da constituição da Irmandade do Senhor Bom Jesus, sabendo-se, entretanto, que, em 1871, os irmãos da Mesa contrataram serviços para as obras da capela. Cabe destacar a presença do Capitão Luiz da Costa Athaíde e de sua mulher Maria Barbosa de Abreu, pais do mestre Manuel da Costa Athaíde, na constituição da Irmandade. Dois dos seus outros filhos, Domingos e Antônio, têm também vínculo documentado com a Irmandade, o primeiro actuando como pintor e dourador e o segundo, servindo de capelão na localidade durante quase toda a sua vida. 
Existe um  compromisso da Irmandade de 16 capítulos que, de um modo geral, se assemelham aos das Confrarias do mesmo tipo pelo que não os vou passar a expôr em pormenor.  De ressaltar, contudo, a particularidade, que não encontrei em qualquer dos outras, que é o de ser o primeiro a declarar, em item próprio, não existirem entraves sociais ou raciais para a entrada de irmãos.  Os mesmos estatutos estabelecem a data dos Jubileus, sem referir se tinham sidos concedidos por Breve Apostólico:
Serão obrigados os ditos officiaes da meza a fazer o Jubilêo da Porciuncula  no dia 2 de Agosto, e o de quinze dias que principiará no dia 29 de Setembro, dia de S. Miguel Arcangelo”.
De acordo com as informações obtidas através da Prefeitura de Piranga, por intermédio do Arquivo Histórico Nilo Gomes, a festa anual ao Bom Jesus fixou-se em Agosto, entre os dias 1 e 15.  Por documentos de pagamento a músicos e a sacerdotes para os sermões e confissões, sabe-se que se realiza já desde o século XVIII.
Relativamente à festa anual aqui e em algumas outras localidades em que o Bom Jesus de Matozinhos é celebrado, existe o interessante costume de alguns romeiros se dirigirem para a festa a cavalo. Grupos de devotos, talvez lembrando as peregrinações dos tempos em que não havia transportes motorizados, organizam-se entre amigos e conhecidos e dirigem-se em cavalgada para o local da festa, percorrendo grandes distâncias. Aqui deixo um exemplo do que acontece em Piranga. 



                                                        
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Matriz do Bom Jesus de Matosinhos de Pouso Alegre

Desde 1600, um século depois da descoberta do Brasil, a região do Mandu era conhecida, mas não era explorada, nem oficialmente administrada.
A beleza topográfica da região, a terra fértil, a abundância de água e a piscosidade dos rios eram um convite à fixação de colonos na região.
Da ambição dos aventureiros que demandavam a região do Sul de Minas, à procura de ouro e outras riquezas, nasceu o conhecimento daquele vasto sertão, ainda desabitado por volta de 1596, quando se deu o primeiro devassamento da bacia do Alto Sapucaí pelos bandeirantes paulistas. Essas expedições e os raros aventureiros que por aqui transitavam necessitavam de se orientar, por falta de informantes, pelas referências geográficas, que por isso ganhavam nomes inconfundíveis: o Matosinho, hoje Pouso Alegre,
Foi com a descoberta das minas de Santana, que se iniciou o desenvolvimento do Matosinho do Mandu, primeiro nome de Pouso Alegre. Durante muitos anos, bem antes da criação do Arraial de Pouso Alegre e do surgimento da primeira Capela, os caminhos do Mandu eram passagem e parada obrigatória de diversas caravanas que iam da cidade de São Paulo para a capital mineira, Ouro Preto.
Muito antes também, esses caminhos foram desbravados pelos Bandeirantes, que abriram trilhas para os tropeiros. Uma razão que concorreu bastante para o rápido povoamento do lugar foi o vau do Rio Mandu existente no local, onde o caminho cruzava com o rio, que se tornou uma passagem obrigatória, pela qual transitavam os viajantes que vinham de São Paulo e se dirigiam ao sertão das Gerais, à procura de ouro e pedras preciosas.

Em 1831, Pouso Alegre alcançou um prestígio tão grande que, quer seja pelo progresso da povoação, quer seja pela influência política do cónego José Bento, a sua elevação à categoria de vila se fez naturalmente, sem nenhum esforço por parte de seus habitantes, no dia 13 de Outubro daquele ano. iniciada a construção de uma capela para dar assistência aos moradores. Conclui-se em 6 de Agosto de 1799, quando foi rezada a primeira missa pelo padre José de Mello, substituto do vigário de Santana do Sapucaí, que passou a ser o seu capelão.
A capela foi edificada à custa dos moradores, e consagrada ao Senhor Bom Jesus dos Mártires ou do Matozinho. A inauguração da capela com a celebração regular de atos religiosos pelo capelão, padre José de Mello, vieram trazer nova animação ao povoado do Mandu, que foi aos poucos adoptando a denominação de Pouso Alegre. De construção modesta e sem nenhuma arquitectura, a capela era feita de adobes e coberta com folhas de palmeira entrelaçadas que formavam uma perfeita esteira. Em frente da capela ficava um pequeno cemitério. Passou a paróquia em 1805 Com o passar dos anos, e com o crescimento da população, a primitiva capela tornou-se insuficiente, e em fins de 1849 ou começo de 1850, teve início a construção da nova Matriz, atrás da antiga capela, a qual foi concluída em 1857.
A Matriz erguida em 1857, tinha um telhado pontiagudo e não tinha torres, e sofreu algumas reformas, sendo melhorada no princípio do século para a sua elevação a Catedral.

ANTIGA MATRIZ

 Exteriormente o templo não apresentava grandes lavores artísticos, mas tinha um interior majestoso: colunas de madeira artisticamente trabalhadas sustentavam a nave; o tecto, apoiando-se sobre os arcos das tribunas, vistosos e bem ornamentados, primava pela elegância; no meio da nave erguiam-se, de cada lado, os púlpitos, de onde se faziam ouvir as palavras de ensinamentos da religião. Para além da balaustrada que dividia a nave, via-se uma escadaria, coberta por vistosos tapetes, que levava a um patamar onde ficava o altar-mor e as tribunas do cabido. O rico altar de madeira era artisticamente burilado e de fino gosto, onde era venerado o Senhor Bom Jesus, o padroeiro da Matriz. Uma moderna iluminação a gás acetileno fazia realçar a pintura interior, que apresentava uma combinação de cores de muito bom gosto. Na noite de 15 de Fevereiro de 1920, esta igreja foi vítima de um grave incêndio que, só por milagre, destruiu apenas o forro da nave
Para coroar uma série de realizações, durante o seu episcopado de 43 anos, um dos bispos, dom Octávio, se propôs a construir uma nova Catedral, tendo em vista a necessidade de uma reforma urgente da antiga. Optou-se pela construção de uma nova igreja, dada a vultosa quantia necessária para os reparos, sendo mais prática e interessante uma nova construção ficando resolvido dar-se início à construção e adoptar a antiga planta do professor Sachetti, com simplificações.
Em 6 de maio de 1948, dom Octávio benzeu a primeira pedra da nova Catedral e no dia 4 de agosto de 1949 foi inaugurada a primeira parte correspondendo mais ou menos à metade de todo o templo, podendo acomodar cerca de 1.200 pessoas.


ACTUAL MATRIZ
              ALTAR DO BOM JESUS                                   INTERIOR DA IGREJA



FESTA DO BOM JESUS
 
Em Pouso Alegre, a festa do Jubileu celebra-se a 4 de Agosto, aniversário da Diocese. Do número de Setembro de 2002 do jornal da Paróquia do Bom Jesus extraí o relato da Festa de 2002:

A Paróquia Bom Jesus realizou a Novena e Festa do Bom Jesus, entre os dias 28 de Julho a 6 de Agosto. Durante esses dias, as diversas pastorais, movimentos e comunidades participaram da celebração das missas, preparadas pelas equipes de liturgia. Sacerdotes da região foram convidados a presidirem à celebração. A festa também contou com a parte social, com a quermesse e o bingo, entre os dias primeiro a sete de Agosto.

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CATAS ALTAS 
Situada na região central de Minas, com uma área de 240 kms2  e a 120 kms da capital do estado, Catas Altas tem cerca de 4000 habitantes, dos quais um terço é população rural. Situada junto do imponente e majestoso contraforte da Serra do Caraça, a pequena cidade de Catas Altas abriga a maior parte da Reserva Particular do Património Natural do Caraça, além de outras inúmeras riquezas naturais.

                                                                         
Vista da Serra do Caraça

A cidade possui também um valioso patrimónionio histórico e uma "mineiridade" quase intacta, que se revela na religiosidade de sua gente, nos costumes e tradições, na fabricação de vinho artesanal, na música dos muitos violeiros, no bucolismo de sua arquitectura e nos antigos quintais, relíquia já em extinção em Minas Gerais. Mas é também uma cidade onde a actividade mineira é muito forte e já deixou sequelas ambientais graves.
Em 1712, já se delineava o aglomerado urbano que se formava ao redor da mineração. A elevação à freguesia, através de medidas da administração colonial, deu-se em 1718, sendo a paróquia declarada de natureza colativa e seis anos mais tarde, foi nomeado seu primeiro vigário colado. 
Por essa época aí residiram pelo menos dois irmãos da Confraria do Bom Jesus de Matosinhos de Portugal.

O conjunto arquitetónico barroco formado não só pela Igreja da Matriz, mas também por casas antigas ao redor da Praça Monsenhor Mendes, entre outras construções, traz para o presente a história do passado da pequena e bucólica cidade mineira.

          Capela do Bom Jesus de Matozinhos ou do Senhor do Bonfim


. Situada na rua Direita, esta pequena capela data do final do século XVIII.
Construída em madeira e pau a pique, apesar da simplicidade do interior possui uma fachada interessante. Já vem registada em Visitações feitas no séc. XVIII por Frei D. José da Santíssima Trindade
Em seu interior tem-se a representação da Paixão de Cristo em rocaille (elemento usado no estilo rococó), com o açoite, escada, esponja de fel, coluna, cana verde e a cruz. Nas extremidades tem-se mais quatro rocailles, onde se inserem a coroa de espinhos, cravos, martelo e turquês. A arquitetura da Capela, do século XVIII, é despojada e simples, tendo no altar a escultura de Cristo Crucificado. Usada para velórios, mas também para reunião de grupos de orações.




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              Bom Jesus de Matozinhos de Couto de Magalhães de Lima

O início do povoamento data de 1725, quando Sebastião Leme do Prado, em busca de ouro e diamantes, assenta acampamento próximo às margens de um rio sereno e cristalino, que recebe o nome de rio Manso. O povoado, de mesmo nome, localizava-se em uma área estratégica e propícia ao comércio, por ser passagem obrigatória das tropas (único transporte de cargas utilizado na época) utilizando a estrada de ligação com outras regiões.
Incluído na área do Distrito Diamantino, após 1734, o arraial teve, durante todo o período colonial, seu crescimento contido pela rígida administração imposta na área e pelo monopólio real sobre os diamantes, que limitava a participação nos benefícios e lucros da sua extracção.
Em 1839, foi o povoado elevado a distrito do município de Diamantina, sendo a freguesia criada em 1853. Teve sua denominação alterada de Rio Manso para Couto de Magalhães, no ano de 1938, tornando-se município autónomo com a criação da cidade, em 1962. de cargas utilizado na época) utilizando a estrada de ligação com outras regiões.
Da época do apogeu da exploração dos diamantes, restaram duas importantes igrejas coloniais na cidade: a Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Conceição e a pequena capela do Bom Jesus de Matozinhos. 
A capela do Bom Jesus está situada numa praça com dois renques de jacarandás paralelos às suas fachadas  laterais. Tem o partido bem simples, com nave e capela-mor de menor largura, separadas pelo arco-cruzeiro, sacristia nos fundos e coro.

                     Capela do Bom Jesus de Matozinhos - anterior a 1807

A construção é em taipa, possui cunhais e enquadramentos dos vãos em madeira e cobertura de duas águas guarnecida por beirais em cachorros. A torre, única, de secção quadrada, é central e de madeira, tendo a cobertura em forma piramidal de telhas coroada por uma esfera armilar.A fachada, com os vãos distribuídos da maneira tradicional. Mostra portada com vedação almofadada e sobreporta trabalhada, com graciosa decoração de relevos em madeira policromada, no estilo das igrejas de Diamantina, e ladeada em diagonal, na altura do coro, por duas janelas rasgadas por inteiro, de postigo sobreposto, dando para sacadas isoladas com guarda-corpo de ferro batido. 

                                                       Interior da capela


Altar-mor com a imagem do Cristo

Como habitualmente na região de Diamantina, apenas a capela-mor teve completada sua decoração interna, congregando talha e pintura em ambientação unitária. O retábulo, de colunas rectas e dossel, é simples mas de boa qualidade, podendo datar dos finais  do século XVIII. Sua cimalha prolonga-se nas paredes laterais da capela-mor, servindo de moldura natural à pintura do forro, como nas igrejas diamantinenses. Esta pintura é bastante interessante, pois constitui um dos melhores exemplos mineiros de reinterpretação popular dos padrões eruditos de pintura perspectivista do ciclo rococó.

Além da do padroeiro, a capela conserva ainda algumas imagens antigas, tal como a de Nossa Senhora do Rosário, no altar lateral da esquerda. 

                                    Altar de N. Senhora do Rosário    

Não consegui obter nenhuma informação sobre a existência de alguma festa ao Bom Jesus de Matozinhos. A  maior solenidade local é a de Nossa Senhora do Rosário que se realiza na capela do Bom Jesus, por coincidência estranha no mesmo dia em que se festeja o jubileu de Congonhas – 14 de Setembro. A escolha desta data poderá significar a junção da festas das duas devoções.

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            MATRIZ DO BOM JESUS DE MATOSINHOS DE JESUÂNIA


Só em 1749 é que aparece, pela primeira vez, o nome de um morador na região. Trata-se de Manuel Vieira(...). Manuel Vieira era natural de S. Pedro de Freitas, comarca de Guimarães no Arcebispado de Braga, e filho de Gervásio Vieira e de Catarina Gomes. Casou com uma rapariga local, Teresa Corrêa.
Em 1753 surge a distinção entre Lambari de Cima e Lambari de Baixo, prova de que iam aparecendo moradores em ambas as partes da estrada.
Desde 1755, é conhecido o sítio do Lambari, de onde se originou o núcleo populoso, actual Jesuânia.
Quando da descoberta das fontes de água mineral de Águas Virtuosas, o Arraial de Lambari, às margens do rio do mesmo nome, já crescia e prosperava. 
Em 1816 o Alferes José Inácio de Mira com sua mulher foram vendedores de um campo a António Xavier Mariano, procurador nomeado para a construção da capela do Senhor Bom Jesus .Em 1826, os mesmos venderam  uma porção de terras, na fazenda de S. Rita do Lambari, ao procurador da Capela do Bom Jesus do Matozinhos do Lambari, António Xavier Mariano, para património da referida capela, o que nos revela a sua devoção. Com o tempo e o crescimento do lugar a primitiva Capela deu origem à primeira catedral, substituída pela monumental obra arquitetônica dos nossos dias.
A primeira Matriz terá sido concluída em 1885 e sagrada em 1886.

                                                   PRIMEIRA MATRIZ

A primeira pedra para a nova matriz foi lançada no dia da festa anual do Bom Jesus de Matosinhos, em 6 de Agosto de 1949, na presença de autoridades civis e eclesiásticas.

                                  Matriz do Bom Jesus de Matozinhos
                                       
As linhas arquitectónicas do templo, de estilo românico com adaptação do moderno, cuja planta foi da autoria do renomado arquitecto  Benedito Calixto, dão à obra beleza e originalidade. O altar-mor, foi uma oferta do Coronel Américo Dias de Castro, prefeito do município e presidente da comissão pró-construção.

O interior é todo de mármore e ricamente trabalhado.

Também de pedra-mármore verde é o nicho onde se acha colocada milagrosa imagem, em tamanho natural, do senhor Bom Jesus, padroeiro da cidade. Essa imagem é obra de artista exímio, trabalhada em madeira vinda directamente de Portugal.


                                                   Altar do Cristo

Durante a Semana Santa são feitas na igreja do Bom Jesus importantes cerimónias quaresmais de que se destaca a encenação da Paixão, cujos personagens são encarnados por destacados actores da TV brasileira.


Como já foi referido a festa ao Bom Jesus de Matozinhos realiza-se a 5 de Agosto. Segundo as informações locais  é um dos eventos mais celebrados localmente. Contudo não consegui obter pormenores da festa.

Aproveito para aqui deixar o meu agradecimento, se bem que atrasado, ao Senhor bispo de Campanha,  D. Frei Diamantino de Carvalho, Bispo de Campanha, que muito me ajudou no estudo de Jesuânia através dos documentos que me enviou na altura em que eu estava a escrever o livro que serve de base a este blog.

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                                                     Cana Verde


Por volta de 1800, a região era explorada pelo português Romão Fagundes do Amaral, e denominava-se Matozinhos do Jacaré. Posteriormente, Manoel Fernandes Airão chega às terras e passa a trabalhar como contador do português. Juntos, iniciam o plantio da cana-de-açúcar e desenvolvem também o cultivo de cereais. Após algum tempo, ao receber terras através de sesmarias, o contador enriqueceu-se, recebeu o título de Conde e doou o terreno para a construção da primeira capela dedicada ao Senhor Bom Jesus de Matozinhos. 
Igreja do Bom Jesus de Matozinhos de Cana Verde         
Segundo informações da Prefeitura  local, a pequena capela que Manuel Fernandes Airão levantou terá sido rapidamente substituída por um templo maior:
“A fundação deste povoado deu-se por volta de 1850, altura em que chegou à região  Dona Maria do Rosário da Conceição (matriarca da família Anastácio Barbosa), com seus familiares e escravos. À sua ordem, estes construíram uma capela na parte mais alta da região, onde havia um canavial verde, o que deu origem ao nome do município. E no pequeno arraial as primeiras famílias foram se entrelaçando. Com o aumento da população foi edificado no local da capela um templo maior – uma Igreja Matriz." 

      Igreja do Bom Jesus de Matozinhos de Cana Verde
          
Segundo informações da Prefeitura  local, a pequena capela que Manuel Fernandes Airão levantou terá sido rapidamente substituída por um templo maior.:
“A fundação deste povoado deu-se por volta de 1850, altura em que chegou à região  Dona Maria do Rosário da Conceição (matriarca da família Anastácio Barbosa), com seus familiares e escravos. À sua ordem, estes construíram uma capela na parte mais alta da região, onde havia um canavial verde, o que deu origem ao nome do município. E no pequeno arraial as primeiras famílias foram se entrelaçando. Com o aumento da população foi edificado no local da capela um templo maior – uma Igreja Matriz. 

                                                    Antiga Matriz

                                         Capela-mor da antiga Matriz

“ Em 24 de Dezembro de 1874 foi criado o Arraial do Senhor Bom Jesus da Canna Verde, pela Real lei provincial nº2087. Nesse mesmo dia foi criada a paróquia do mesmo nome, pela lei provincial nº2086, ficando a pertencer à diocese de Mariana.
O primeiro baptizado que se celebrou na nova paróquia foi o de um filho de um casal escravo a 23 de Abril de 1876.!

A imagem do Senhor Bom Jesus de Matozinhos foi esculpida em estilo barroco mineiro por Francisco Borgônio de Meneses


Embora a imagem do Sagrado Coração de Jesus oculte o pormenor, esta imagem apresenta os pés pregados separadamente, à semelhança da imagem portuguesa original e da maioria das brasileiras ligadas à mesma devoção.

O mesmo se passa no que diz respeito ao rosto do Cristo que apresenta  um olho para o céu e outro para a terra






                                                   Imagem processional

Desde a época da sua inauguração, em 1874, até à primeira década deste século, havia em volta da igreja um muro de pedra, o Adro, dentro do qual ficava o cemitério .
Segundo o professor Vicente Barbosa, há uma curiosa lenda acerca desta imagem:
O arraial do Senhor Bom Jesus da Cana Verde fazia divisa com o Arraial do Senhor Bom Jesus dos Perdões (13 kms). Numa época de grande seca na região, estas duas comunidades fizeram duas procissões durante a qual se procedeu à troca das duas imagens (a de Cana Verde pela de Perdões) no meio do caminho. Logo depois choveu.
                                             Nova Matriz
A Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, constitui parte fundamental do conjunto histórico, social, arquitectónico e cultural do Município de Cana Verde Estado de Minas Gerais, situada no centro da Praça Governador Magalhães Pinto. 

                       Vista geral da cidade com a igreja Matriz no centro

Jubileu

   Como em Congonhas, também em Cana Verde a festa do padroeiro se realiza no dia 14 de Setembro sendo comemorada com alvorada da banda de música, fogos, repiques de sino, procissão, leilões e animadas barraquinhas.

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Um agradecimento especial a Vicente Freire Barbosa, professor e historiador local que, desde o primeiro contacto feito há mais de 12 anos, sempre me fez chegar informações  preciosas que muito contribuíram para a  elaboração do meu livro "Rota de FÉ". Sem o seu apoio o capítulo dedicado a esta igreja e a esta cidade, o  teria ficado bem mais pobre. Um abraço


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                                      BOM JARDIM DE MINAS

A história do município começa com a construção, pelo Capitão António Pereira Lacerda, de uma capela em homenagem ao Bom Jesus, que recebeu provisão eclesiástica em 1 de Maio de 1755 . A exemplo do que normalmente ocorria no período colonial, o núcleo habitacional do povoado desenvolveu-se ao seu redor.
Em 1790, o português Manuel Arriaga, juntamente com outros elementos separados, como ele, dos restantes mineradores portugueses que exploravam as margens do Rio Grande, receberam no seu arraial António Correa de Lacerda, com sua mulher D. Ana de Souza Guarda,  que aí se instalaram e organizaram uma fazenda, onde começaram a cultivar melhor a terra e incentivar a indústria pastoril. Em 1856, dessa Fazenda Bom Jardim surgiu um grande arraial que foi denominado  “Arraial do Senhor Bom Jesus do Bom Jardim” nome originado pelo bem organizado jardim da fazenda. Esta freguesia, com uma pequena capela filiada à paróquia de Turvo, ficou independente desta, em 2 de Maio de 1857 e desde então é paróquia.
O patrimônio da capela foi doado por Antônio Corrêa de Lacerda e sua esposa, em 12 de Fevereiro de 1892. Esta capela chamada então do Senhor Bom Jesus foi mais tarde a primeira  Matriz   do Senhor Bom Jesus do Matozinhos. 



Fotografia antiga da primeira Matriz do Bom Jesus de Matozinhos

O cemitério do arraial que era construído na parte baixa do arraial  foi transferido para junto da capela, solenemente benzida em 22 de Setembro de 1908. Já existia o adro protegendo a capela conforme documento original da construção pelos escravos
E é até hoje o mesmo. Sofreu reformas, aumentos conforme as necessidades. As pedras que cercam o mesmo foram de uma fazenda de um lugar chamado São Lourenço perto de Santa Rita de Jacutinga, transportadas por carros de bois.


                       Imagem do Bom Jesus no altar de velha Matriz
     A construção desta capela teve três fases: por ocasião da fundação da Fazenda Bom Jardim, em 1857; em 1900, um novo aumento; em Dezembro de 1915 terminou a torre que na época  era um serviço arrojado. Dez anos depois nova reforma trazendo conforto à comunidade católica.
Se bem que o texto nos fale sempre desta Matriz existe uma outra muito mais moderna, que veio substituir a antiga por necessidade de mais espaço para a prática litúrgica. Felizmente, e ao contrário do que sucedeu em outras cidades de Minas Gerais, a sua construção não implicou a demolição da anterior. Trata-se de um templo cuja primeira pedra foi lançada  em 7 de Julho de 1969, tendo as obras de construção começada duas semanas mais tarde, em 23 de Julho.
  Foi sagrada e aberta ao público no dia 15 de Agosto de 1971.

                                    
 Nova Matriz de Bom Jardim de Minas

No que diz respeito à imagem do Bom Jesus consegui, pela mesma fonte, uma fotografia acompanhada por uma curiosa descrição. Assim Segundo José Marinho de Araújo
 O nosso padroeiro Senhor Bom Jesus de Matozinhos foi esculpido em 1781, segundo um historiador e restaurador oficial de São João . Ele foi feito em cedro vermelho, coberto de pele de carneiro e emassado com massa de primeira qualidade.
O artista que o esculpiu teve um erro ao fazê-lo: o fez com quatro cravos. O correcto em todas as Imagens do Cristo crucificado são três cravos: um na mão direita, outro na esquerda e um nos pés, sobreposto ao outro  Seus olhos são feitos de marcassita, um olhando para a terra e outro para o céu.


O autor do texto revela contudo total ignorância sobre a tradicional forma de representação dos pés do Bom Jesus de Matosinhos. Será que localmente pensam que esta é a forma correcta da Imagem original e que a imagem deles está errada?
Nada mais incorrecto pois a verdade é que a verdadeira imagem do Bom Jesus de Matosinhos portuguesa está pregada com dois cravos, portanto com os pés separados. 

Festa anual

 A festa anual que me informaram ser muito concorrida, celebrou-se durante muitos anos entre 13 e 15 de Agosto. Actualmente por determinação do Conselho Paroquial passou para o 2ª domingo de Agosto (dia do Pai no Brasil).
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SABARÁ

          A capela do Bom Jesus  

Quando o ermitão da irmandade portuguesa do Bom Jesus de Matosinhos, João Alvares de Carvalho andou a pedir por Minas na primeira metade do século XVIII esteve em Sabará e já havia então portugueses ali a residirem. Não há conhecimento de nessse tempo ali existir qualquer templo da devoção àquela imagem. A primeira notícia sobre a capela agora ali existente  é de 1867, quando o viajante inglês Richard Burton, na sua visita a Sabará, escreveu a propósito dela: No cimo do morro, à direita, eleva-se um objecto muito comum em Minas, o cruzeiro alto e negro, em frente a pequena capela branca – alvo de peregrinações. Este Morro da cruz está a 2.800 pés, ou mais exactamente 858 metros acima do nível do mar.
Sobre a sua fundação, Zoroastro Viana Passos, diz que foi no século XIX que se ergueu No Monte da Cruz (que se dizia o Monte Glorioso), e sob o patrocínio, entre outros, de Teotónio Rodrigues Dourado, abastado comerciante português, e às vistas da Irmandade do Rosário, a capelinha da Cruz.


 Vista frontal da capela



Vista lateral do conjunto

Trata-se de uma capela muito simples, valorizada pela sua situação num sítio elevado, de ampla e agradável perspectiva. Tem planta planta rectangular, com duas salinhas projectadas lateralmente à capela-mor que servem de sacristia.
A estrutura da nave foi construída em alvenaria de tijolos. O piso actualmente está cimentado e o forro é de tabuado liso. Não tem púlpitos. O coro apresenta uma balaustrada rústica de madeira. De interior bastante pobre, tem dois modestos nichos nas paredes à maneira de altares.


 Nave e coro


Altar-mor 

A cobertura do corpo principal é em duas águas e as paredes caiadas. A fachada tem cunhais e empena em massa, beiradas de cimalha pobre, pintadas a óleo e a cal. Vãos também enquadrados em massa, com vergas em arco batido. As portas principais e as laterais  possuem almofadas rústicas. As duas janelas da frente estão rasgadas por inteiro, com balaústres de madeira na altura do coro e pequeno óculo na empena. Não tem torres. Em seu lugar há uma pequena sineira vazada numa das paredes laterais.

Nesta capela há registos de duas manifestações religiosas anuais. Uma delas é a Via-Sacra das Dores que se celebra às 4h de Sexta-feira Santa em que os fiéis, transportam em procissão a imagem de Nossa Senhora das Dores e durante a caminhada revivem os Passos da Paixão de Cristo. Este tipo de cerimónias acontece um pouco por todo o lado em Minas Gerais e é uma prática comum das igrejas da devoção ao Bom Jesus de Matosinhos.
 Ao longo do caminho do percurso das procissões existem curiosas capelinhas denominadas Passos que são elementos importantes na arquitectura religiosa local.
A outra festa é a que se realiza em louvor da Santa Cruz, em Setembro, na mesma  época do grande jubileu de Congonhas.

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 2 Igrejas Matrizes do Bom Jesus de Matozinhos em Campo Belo

Em passado bastante remoto, existia onde hoje se localizam as Praças Minote Áurea, Cônego Ulisses e Rui Barbosa, um campo alegre e formoso, cercado por mato fechado. Esse campo e esse mato eram cortados pela estrada real que demandava à povoação de Candeias. Esse local de pouso, transformou-se em povoação, em arraial, em vila e em cidade, segundo reza a lenda que de boca em boca vem do século 17 até os nossos dias. O nome de Campo Belo daquela clareira teria sido dado por Romão Fagundes do Amaral, o qual, ao avistá-la, deslumbrado com sua beleza, exclamou: “Que Campo Belo!” Mas a primeira denominação oficial do povoado que se formava foi “Ribeirão São João”, motivada pelo ribeirão ali existente. Onde se situa a cidade de Campo Belo, segundo tudo indica, era uma zona inteiramente inabitada, e que o território fora outrora refúgio dos temíveis “Cataguases” que fugindo à tenaz perseguição do audaz bandeirante Feliz Jacques, refugiaram-se nos sertões de Tamanduá e de Piuí, conforme conta Diogo de Vasconcelos em “História Antiga”. Em fins de 1675, Lourenço Castanho – O Velho, penetrando o sertão agreste à frente de forte bandeira, desalojou os indígenas, perseguindo-os liquidando-os em princípio de 1676”. Ficaram assim desembaraçadas as terras do Oeste de Minas, para que nele penetrassem os bandeirantes. Possivelmente, dessa época, deve datar o início da civilização nas terras em que se veio fundar mais tarde o Arraial do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Campo Belo. Segundo a lenda da fundação de Campo Belo, foram alguns componentes de uma caravana chefiada por Romão Fagundes do Amaral, no princípio do século XVIII, as primeiras pessoas que se fixaram ali, seduzidas pela flora exuberante da região  e certamente com o fim de se dedicarem ao cultivo da terra. Mais tarde, chegava a Campo Belo Catarina Parreira vinda de Suaçuí, em Minas, segundo uns, de Portugal, segundo outros, trazendo em sua companhia alguns filhos e muitos escravos. Logo que chegou, D. Catarina fundou, a uma légua e meia da clareira denominada “Campo Belo”, a fazenda dos Parreiras. Cerca de dez anos após a sua chegada, Dona Catarina, católica fervorosa, deu início às obras de igreja do Bom Jesus de Matosinhos,  no meio da mata, aproveitando para isso a grande clareira.  Apesar de história oral contar que a Igreja fora iniciada em 1720 a só terá sido provavelmente construída a partir de 1774, pois, segundo documento assinado pelo Padre Vicente Lopes, que aqui viera para fazer baptizados, em Março de 1773, “não havia então Ermida no lugar de Campo Belo”. Catarina Maria, pela sua inteligência e habilidade política, além de fervorosa cristã católica, participou activamente da vida do então Povoado do Ribeirão São João (primeiro nome de Campo Belo), especialmente na continuidade da construção da Igreja do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, trabalho para o qual dispensou sua influência  e seus escravos, tendo ainda, contratado Francisco Gorgónio de Meneses, discípulo do Mestre Aleijadinho, para a montagem do Altar-Mor, frescos e colocação do sino que viera da Europa. Esta igreja ainda existe e é conhecida como Velha Matriz

Imagem original do Bom Jesus de Matosinhos

 Com a construção da capela, deu-se início à formação do arraial, que posteriormente se transformaria em cidade. O distrito “Arraial” foi criado pelo Alvará de 24 de Setembro de 1818.
(Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – Volume XXIV ano 1958).
 Velha Matriz- séc. XVIII
Dado o envelhecimento e deterioração desta Igreja foi construída uma nova, a Nova Matriz :

A construção desta possibilitou o restauro que se fez na antiga, sem parar o culto. Praticamente terminado essa recuperação vejamos agora como se apresenta a antiga que acaba de ser reaberta:


Festa do Senhor Bom Jesus de Matosinhos
Como na maior parte das igrejas desta devoção as cerimónias religiosas e profanas deste padroeiro realizam-se entre 7 e 14 de Setembro.

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ITAPECERICA

De 1676 até 1735 o padroeiro de Itapecerica (antiga Tamanduã) foi o Bom Jesus de Matosinhos. Depois passou a ser S. Bento por causa de uma praga de bichos venenosos. 
A Capela do Senhor Bom Jesus de Matozinhos de Itapecerica foi construída entre 1797 e 1979 no arraial de Nossa senhora de Candeias, da freguesia de S. Bento de Tamanduá. O processo teve início através de um requerimento dos fiéis moradores dirigindo-se ao ouvidor de São João Del-Rei no qual os moradores de Nossa Senhora das Candeias, freguesia de São Bento do Tamanduá, queriam edificar uma ermida do Senhor Bom Jesus do Matozinhos, pedindo para isso a competente licença, sem prejuízo dos direitos paroquiais. O ouvidor, apoiado na informação do vigário de Tamanduá, que considerou “justa a pretensão dos suplicantes”, concedeu a licença. Foi então designado para Candeias, em 1793, o Padre Antônio Ferreira de Miranda onde ficou 40 anos, de 1793 a 1833. Foi responsável pela ereção das novas capelas de Bom Jesus de 1797 a 1799 e de Nossa Senhora dos Pretos que se iniciou em 1795 e foi concluída em 1820. Pe. Antônio a usava sem o reconhecimento canônico cujo processo se iniciou só em 1802. Um atestado de 7 de dezembro de 1809 já afirma estar edificado no arraial de Candeias, com esmolas dos fiéis de Deus e o seu trabalho, um templo com invocação do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, cuja ermida  estava com o asseio necessário para celebrar nela o Santo sacrifício da missa e mais festividades costumadas. Não se sabe ao certo a data da provisão, porquanto já se tinham tornado tradicionais as festas jubilares do Senhor Bom Jesus, com notável afluência de romeiros de toda a parte. Em 1814 o distrito de Senhor Bom Jesus já contava com mais de 600 habitantes. Além das festas anuais, consagradas ao padroeiro, outras especiais se realizavam merecendo destaque as das solenidades da Semana Santa.
O encarregado de as organizar era o zelador da capela com o apoio dos confrades e mais devotos sendo presididas pelo capitão-cura, após autorização do vigário da vara.É possível que o património do Senhor Bom Jesus tenha sido formado aproximadamente no ano de 1810, época em que, os confrades pediram ao então príncipe Regente D. João que lhes concedesse autorização e confirmação para uso da capela. No interior da Capela, em 1826 já havia o painel do Cristo ressuscitado, no tecto, como ainda de quatro evangelistas, verdadeira maravilha de arte que causava admiração aos visitantes.
O zelador, Manoel José de Oliveira, contratou os serviços de pintura do pintor José Antônio Cipriano de Almeida Lara para pintar a capela-mor do Senhor Bom Jesus, tendo como detalhe pela declaração datada de 10 de outubro de 1826, que não levasse ouro nem óleo mas uma pintura perfeita com boas tintas. A devoção ao Senhor Bom Jesus então tornou-se muito popular. Em 1878, a Irmandade do Senhor Bom Jesus, já separada do patrimôónio da Senhora das Candeias, que tinha mesa composta por Juiz, tesoureiro e secretário, passava por angustiante crise financeira, e a Capela necessitava sanar graves problemas tais como consertos do telhado e renovação das alfaias. O tecto e paredes estavam em estado ruim de conservação. Foi então que o procurador e zelador da capela, Domiciano José de Castro Sena, requereu e obteve do bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso, licença para dispor dos bens em hasta pública, cujo produto seria aplicado nas obras em questão. O arrematante foi o tenente José Marques da Silva, pai do Coronel Antônio Marques da Silva, em troca da mão-de-obra a ser paga por ele. A elevação de capela do Senhor Bom Jesus à dignidade de Santuário deu-se no pontificado de Gregório XVI.
Presume-se que o acto por ele assinado, que concedeu à dita capela as honras de santuário, tenha sido em data anterior a 1834 , ano que se realizou ali um dos mais solenes jubileus, entre 7 e 14 de Setembro.
A segunda noticia sobre os tradicionais Jubileus de Candeias, data de 1923 e tiveram sua renovação através do Pe. Dionísio Francisco das Chagas. Realizaram-se neste ano dois Jubileus a 3 de Maio e 14 de Setembro. Os Jubileus eram marcados pelas recepção aos romeiros e irmandades que se apresentavam para receber as graças do Senhor Bom Jesus e  por grandiosas festas de encerramento com missa solene, procissão e novenas. Com o correr dos tempos extinguiu-se este importante jubileu e cessou este movimento de romarias ao Bom Jesus de Candeias. Até 1904 a capela esteva desprovida de torres e possuía naves laterais. Neste ano iniciou-se a construção da torre. 


          Antigo Santuário do Bom Jesus de Matozinhos de Itapecirica

Em 1933, numa nova reforma, este belíssimo templo, outrora centro de tradicionais peregrinações, descaracterizou-se pela retirada de suas naves laterais.




Actual igreja do Bom Jesus de Matozinhos de Itapecerica



Imagem do Bom Jesus de Matozinhos de itapecerica


(Fonte : http://www.candeias.mg.gov.br/historiaigrejabomjesus.htm)

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Igreja do Bom Jesus de Matozinhos de Pedra do Indaiá

O município de Pedra do Indaiá foi criado em 30 de Dezembro de 1962 e instalado em 1º de Março de 1963, quando se desmembrou de Itapecerica a qual pertencia. Pedra do Indaiá esta localizada a 170 km da capital Belo Horizonte, em uma belíssima região cercada por morros, ampara belas cachoeiras e paisagens deslumbrantes do cerrado mineiro. No alto de seu maior morro existe a Capela de São Miguel, erguida por um fazendeiro da família Silva no ano de 1729. Nesse local, foi encontrada a imagem do Senhor Bom Jesus, que havia sido escondida por bandeirantes, que a roubaram no município vizinho: Itapecerica. A capela foi abandonada e por isso seu tecto e partes de suas paredes construídas de pedra caíram ao chão e logo o seu interior foi usado como cemitério da família Silva, onde várias pessoas estão sepultadas. Com o passar dos anos e com a chegada ao município do (já falecido) Padre Miguel Rodrigues dos Anjos, foi restaurada, em Setembro de 1982, com a ajuda da população. 


Igreja do Bom Jesus de Matozinhos



Altar-mor

Hoje, é um ponto turístico da cidade e o seu  restauro é comemorado todos os anos no primeiro domingo de Setembro (data de sua reinauguração) numa comemoração que atrai romeiros de toda região para participar da chamada "Festa da Igrejinha".
Em 1952, foi celebrado o primeiro Jubileu do Senhor Bom Jesus, pelo reverendíssimo Padre João Bruno Barbosa, que dirigiu a paróquia da cidade durante 12 anos. Essa festa é celebrada todos os anos de 1a 14 de Setembro em homenagem à milagrosa imagem. Os dias mais importantes são de 0 a 14, à semelhança de  Congonhas.


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LAGOA DOURADA



O povoamento local começou por volta de 1625, quando a bandeira comandada por Oliveira Leitão descobriu ouro nas águas de uma pequena lagoa. Ao encontrarem ouro de aluvião na lagoa, os primeiros mineradores a chamaram de "Alagoa Dourada". Então, nasceu o povoado e as casas foram subindo a colina. Por volta de 1717, a região já estava bem povoada e o arraial foi se formando com a chegada de novos "oureiros". Em 1734, Dom Frei Antônio de Guadalupe ergue, então, uma capela dedicada a Santo Antônio. Em 1750, o arraial é elevado a "Distrito da Paz". O coronel Antônio de Oliveira Leitão às suas custas, construiu um caminho novo que ligava São João del rei a Ouro Preto, passando pela então Alagoa Dourada, onde morava desde 1713. Demolida a antiga capela, construída em 1734, iniciou-se a construção da Matriz em 13 de julho de 1850. Muitos anos paralisada a construção foi reiniciada em 20 de junho de 1899, tendo sido contratado o empreiteiro Augusto Buzattii, italiano  que se mudou para esta cidade. Em 1832, o nome original de Alagoa Dourada é alterado para Lagoa Dourada, uma referência à lagoa ali existente, muito rica em ouro. 


Igreja  do Senhor Bom Jesus de Matozinhos

A antiga capela do Senhor do Bom Jesus foi destruída, em 1905, por vandalismo. A nova igreja, mal construída, começou a ruir e novamente foi fechada. Só em 30 de maio de 1911 foi iniciada uma nova construção, feita também pelo empreiteiro Augusto Buzatti




Actual Igreja do Bom jesus de Matozinhos

Acompanhando a subida para a Igreja do Senhor Bom Jesus, estão painéis com os passos da Via Sacra aplicados em graciosos muretes construídos de tijolinhos. Na Semana Santa, comunidade e visitantes participam ali dos rituais religiosos da Paixão de Cristo. Apesar da edificação ser simples, pode-se notar em sua fachada principal um certo apuro no frontão, bem como nos guarda-corpos de metal trabalhado das três janelas rasgadas por inteiro que se abrem para o coro. Acompanhando a subida para a Igreja do Senhor Bom Jesus, estão painéis com os passos da Via Sacra aplicados em graciosas muretas construídas de tijolinhos. Na Semana Santa, comunidade e visitantes participam ali dos rituais religiosos da Paixão de Cristo. Apesar da edificação ser simples, pode-se notar em sua fachada principal um certo apuro no frontão, bem como nos guarda-corpos de metal trabalhado das três janelas rasgadas por inteiro que se abrem para o coro. Em 1921, no Livro de Tombo nº 2 (p. 11) encontram-se as seguintes informações: Que a construção da actual igreja, sucessora da antiga demolida em 1905, começou com a colocação da primeira pedra em 04/09/1909 e o início das obras se deu em 15/10/1909.
Mas as obras foram logo paralisadas e o seu reinício foi realizado por contrato de empreitada. Esse contrato existe como documento avulso do Arquivo Paroquial e foi celebrado entre o empreiteiro Augusto Buzatti e Joaquim Alves da Trindade, representando o Pe. Antônio Cardoso Damasceno. 
A finalidade do contrato não era a reforma da capela, mas sim  a sua construção, discriminando todos os serviços a serem feitos. A data do contrato é de 29/05/1911 e o valor da empreitada foi de 3:000$000, ou seja, três contos de réis.



2 perspectivas do altar mor

BUZATTI, Dauro José. Lagoa Dourada 300 Anos - Síntese Histórica. 1ª ed. Belo Horizonte, 2011 

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2 CASOS ESPECIAIS E COM UM CERTO MISTÉRIO

Uma Imagem do Bom Jesus de Matozinhos em Lavras

"Onde há provisão registada na “Instituição das Igrejas do Bispado de Mariana”, de 1768, para uma capela do Bom Jesus que não existe, mas de que há uma imagem dele num Museu

Cerqueira Falcão, na sua obra sobre o santuário de Congonhas, cita uma lista de igrejas do Bom Jesus de Matozinhos, que o Cónego Raimundo Trindade  apresenta no seu livro Instituição de Igrejas no Bispado de Mariana, como tendo recebido autorização eclesiástica para serem fundadas. Entre elas está uma capela, em Lavras do Funil, que teria recebido provisão em 23 de Agosto de 1768.
A antiga vila de Lavras de Funil está na origem da actual cidade de Lavras, no Sul de Minas Gerais. Desde o primeiro momento da pesquisa foi impossível localizar a igreja através da Internet pois nenhum sítio local a referia. Fiz várias tentativas de contacto com pessoas  cujos endereços de correio electrónico me apareciam em páginas de Lavras e todos quantos me responderam concordavam em que a igreja não existia. Porém, um deles, o Dr. Jardel da Costa Pereira, professor de História, referiu-me a existência de uma imagem do Bom Jesus de Matozinhos numa igreja local transformada em Museu–Sacro: a Igreja do Rosário. 

IGREJA MUSEU DO ROSÁRIO

Munida desta informação, pus a questão, por fax, ao Prefeito Municipal de Lavras, Dr. Carlos Alberto Pereira, que, após consulta à Superintendência da Cultura da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto, amavelmente me enviou a resposta desta departamento que dizia o seguinte:

Em atendimento à solicitação de V. Sª., estou encaminhando os dados referentes à história do nosso Município e à igreja do Rosário.
  Com relação à imagem citada na correspondência da historiadora Isabel Lago Barbosa, a informação que obtive é de que a nossa imagem do Senhor Bom Jesus da Cana Verde é também a do Bom Jesus de Matozinhos; quanto à capela dedicada ao seu culto não obtive qualquer informação que comprovasse tal culto em nossa cidade (...).   
       Atenciosamente

                                Homero Carvalho Faria

Assim, embora não havendo igreja havia pelo menos uma imagem que, juntamente com a autorização eclesiástica para a fundação da capela, sugeria a existência de uma devoção ao Bom Jesus de Matozinhos na antiga Lavras do Funil, muito tempo antes deste arraial se ter tornado cidade e cuja lembrança se terá perdido no tempo.
Outra grande dificuldade foi obter uma fotografia da imagem. Como qualquer outra peça de museu deverá estar proibida a sua reprodução. Tendo solicitado um exemplar à direcção do Museu, nunca obtive reposta. A sorte, porém, fez-me encontrar na Net uma pessoa com um espírito de solidariedade profundo, a S. Dra. Márcia Bento Rosa da Silva, bibliotecária da Universidade Federal de Lavras, que, através de contactos pessoais, conseguiu uma foto que me enviou. Contudo, para meu espanto, tratava-se de um Cristo da Cana Verde, representação que não coincide com a do Bom Jesus de Matosinhos que é a de um crucificado. Mas  pensando tratar-se de uma uso local, assim a publiquei no meu livro. Mas não fiquei convencida e passei os últimos 10 anos a procurar a imagem certa.

É difícil explicar porque há provisão eclesiástica e imagem e não há igreja ou capela. Poder-se-ão colocar algumas hipóteses. A primeira é de que a provisão eclesiástica dissesse respeito não a um templo, mas sim a um altar numa igreja que poderia ser exactamente a Igreja do Rosário visto que ela era a Matriz de Lavras de Funil, em 1768. A segunda, é de que a provisão se referisse efectivamente a uma capela, para a qual se tivesse encomendado a Imagem, mas que não se tivesse chegado a construir, tendo a Imagem sido guardada na Matriz. A terceira poderá ter a ver com uma possível demolição da capela, facto frequente em Minas Gerais. Só uma pesquisa mais profunda e feita no local poderia revelar o que realmente se passou
Ao longo destes anos persisti na solução do problema. Por isso tomei conhecimento que a Igreja Museu sofreu obras de restauro e que estava aberta ao público. E numa das vezes que ataquei a pesquisa fui surpreendida por um altar com um Bom Jesus com as características dos nosso. Pedi para lá uma foto mas não obtive resposta. Contudo não desisti e através da minha corrente de amigos mineiros e da minha teimosia  chegaram-me finalmente duas belíssimas imagens tiradas pelo Marcos Barbosa a quem aqui deixo expressos os meus agradecimentos muito especiais.


Altar do Bom Jesus do Museu Sacro do Rosário


 

Imagem do Bom Jesus do Calvário do Museu Sacro do Rosário

Não posso garantir com total segurança que esta imagem tenha sido venerada em alguma igreja do Bom Jesus de Matosinhos porque se desconhece a sua origem e o modo como aqui ali foi parar. À volta de Lavras existem igrejas da devoção do Bom Jesus de Matosinhos e sabe-se que existiram mais em paróquias próximas que foram sendo desmembradas. A minha certeza que este Cristo poderá ser um dos nossos Bons Jesus baseia-se nas características da Imagem: Pés pregados cada um com seu cravo, braços abertos e um olho voltado para o céu e outro para a terra como acontece com todas as imagens desta devoção. 
Tudo aponta para que se trate de um exemplar do séc.XIX.
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                BOM JESUS DE MATOZINHOS DA BARRA DE GUAICUÍ 


A sede do município de Várzea da Palma, fica  na região Norte de Minas. A igreja do Bom Jesus de Matozinhos está situada no antigo Arraial da Barra do Rio das Velhas, mais tarde denominada Barra do Guaicuí  local onde aquele rio se encontra com o S. Francisco.



Encontro dos  dois rios

Esta zona da confluência teve uma grande importância no abastecimento das regiões de mineração. Nos primeiros anos em que esta decorreu, os mineiros foram fornecidos dos bens essenciais a partir do litoral vicentino. Mas, rapidamente, novas vias se estabeleceram para o interior. Através do Rio S. Francisco e passando depois ao das Velhas, os baianos estabeleceram um fornecimento regular de géneros e gado com as vilas e cidades de Minas Gerais.  Com eles seguiram também  produtos estrangeiros vindos legalmente de Lisboa, apesar das proibições reais de circulação livre de mercadorias para evitar o contrabando. Por ali também cresceu o comércio de escravos para  o trabalho das Minas. Segundo Mafalda Zemella, a Baía enquanto maior centro abastecedor de Minas Gerais, terá gozado mais da opulência  do ouro do que as modestas cidades de S. Paulo. Daí o fausto das igrejas baianas do século XVII.              
Como Guaicuí era o ponto de encontro dos dois rios será fácil verificar a importância do comércio no local.
Não se sabe ao certo quem foram os pioneiros da ocupação desta região. Enquanto uns indicam Borba Gato como o primeiro a estabelecer-se ali, cerca de 1679, outros referem que terão sido os grandes fazendeiros que da Baía traziam, pelo rio S. Francisco, o seu gado até àquela região, já antes mesmo da chegada das primeiras bandeiras. Estavam neste caso os senhores da Casa da Torre de Garcia de Ávila. Apesar das frequentes inundações provocadas pelos dois rios, o arraial tornou-se um importante centro de comércio da região. Em meados do século XVIII foi elevado a julgado e, em 1775, criou-se a paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso e Almas. As febres palúdicas, provocadas pelas enchentes dos rios,levaram a população a mudar-se para um local mais elevado e de melhores condições climáticas – arraial de Porteiras.
A maior parte dos testemunhos que se conhecem sobre o arraial do Rio das Velhas datam do século XIX e confirmam quer a intensidade do comércio, quer a insalubridade do local. Pizarro e Araújo, em narrativa de 1822, dizia
seus povoadores gozam das (...) particularidades boas, e más do terreno (...), e tem demais o regalo de tudo, que se necessita, para a vida humana. Sustenta o negócio do sal, e de couro, que as embarcações navegadas pelo Rio São Francisco conduzem dos sertões de Pernambuco, e da Bahia.

O viajante Johann E. Pohl, que passou no local em 1820, descreve-o referindo também o seu comércio e clima:
o Arraial do Rio das Velhas está edificado na margem setentrional do Rio das Velhas, perto da sua confluência com o majestoso rio S. Francisco (...). O número de casas eleva-se, no máximo a 80, enfileiram-se numa única rua e, para o lado norte, são pouco insoladas (...). Este arraial é muito conhecido pelo seu amplo tráfego comercial, principalmente pelos seus consideráveis depósitos de sal (...). Mas aqui, especialmente na época chuvosa, reinam a febre pútrida, e as intermitentes, que dizimam a população (...).  O Arraial de Porteiras fica à margem do riacho homónimo e dista apenas um quarto de légua do Rio das Velhas (...).

O arraial foi elevado a vila, em 1861, tendo perdido essa categoria, em 1873, por involução urbana. Com a criação do município de Várzea da Palma, Guaicuí passou a distrito.
A Igreja do Bom Jesus de Matozinhos 
                                                       
A igreja do Bom Jesus de Matozinhos do distrito de Guaicuí, que nunca foi acabada, levanta alguns problemas de datação. Segundo a avaliação do IEPHA/MG, o monumento será da segunda metade do século XVIII, cerca de 1779 .
  

     IGREJA DO BOM JESUS DE MATOZINHOS
(Inacabada e em ruínas)

A sua fundação está rodeada de lendas que permanecem na memória local. Um artigo publicado no Jornal do Comercio, da cidade do Recife, em 21 de Outubro de 2001, fala-nos desse imaginário:

quem conta um conto, aumenta um ponto. A máxima é verdadeira pelo menos quando se trata das ruínas da Igreja de Bom Jesus de Matozinhos, nesse distrito do município de Várzea da Palma. A construção, que nunca foi concluída, é datada do século XVIII e, ao longo do tempo, a cultura popular desenvolveu inúmeras histórias para explicar a existência desse monumento inacabado. Na prosa de alguns moradores, a igreja não chegou a ser concluída porque os padres jesuítas, construtores do santuário segundo relatos históricos, foram massacrados pelos índios Cariris, que habitavam a região das corredeiras de Pira-Poré, área ocupada hoje pela praça central de Pirapora. Em versão oposta, outros relatam que a igreja, erguida em pedras, funcionaria como um forte para proteger os jesuítas das investidas da Coroa Portuguesa. O motivo da perseguição aos religiosos seria o trabalho desenvolvido com os índios. 
                        Aspecto do que resta do portal da igreja
                
A construção teria ainda um túnel subterrâneo, escavado para facilitar a fuga dos jesuítas. Nas ruínas do santuário não há qualquer vestígio deste túnel, constatação que não altera a crença popular na história. “Depois de tantos anos de abandono, o túnel arreou”, sustenta o aposentado Sebastião Gomes, 71 anos. 
A “insatisfação” do santo seria também comprovada por outra misteriosa história. Todas as noites a imagem de Bom Jesus de Matozinhos era colocada nas obras do santuário de Guaicuí, mas amanhecia na igreja da localidade vizinha de Porteiras. Os mais cépticos, no entanto, têm outra versão para explicar o deslocamento da imagem. Os moradores de Porteiras, que queriam ter a igreja no seu povoado, roubavam a imagem todas as noites, fazendo o transporte em carro de boi. “Isso era safadeza do pessoal de Porteiras”, diz Geraldo Ferreira.  Mais adiante, em outro dedo de prosa, surge a história de que a igreja seria construída para cobrança de impostos na extracção do ouro. O Rio das Velhas, chegando ao São Francisco, teria sido uma rota para o tráfico do metal precioso, segundo disseram.
Todas estas tradições carecem, porém, de fundamento histórico que as comprove. 
 Um viajante, Richard Burton descreve-a, em 1867, da seguinte maneira :

O único prédio digno de nota, cujo telhado alto, espalhafatoso e inclinado chama logo à atenção do viajante, é a Igreja do Bom Jesus de Matozinhos, fica em frente da confluência dos dois rios (...) e hoje, quase se encontra à beira do precipício. Construída de pedra de cantaria e de cal, mostra que, no tempo da colónia, o lugar conheceu melhores dias; como sempre, é uma obra semi-construída (...). A entrada do lado sul nunca chegou a ser coberta por um telhado; na sacristia, a leste, só há caibros e o campanário não passa de três barras de madeira, em forma de forca, sustentando o sino. Pilastras e púlpitos de pedra estão condenados a não passar de embriões. E um arco de alvenaria destinado a marcar o lugar do altar-mor, ao Norte, está coberto de ervas daninhas”.

A igreja continua em ruínas. Uma gameleira nasceu no topo da empena  da fachada posterior e expandiu as suas raízes pelos dois lados da parede que com esta ajuda se tem vindo a sustentar. A copa frondosa sobressai no cimo das ruínas.
 
Uma tese perpetuada também na tradição local, situa o início da sua construção numa data muito anterior – 1650 – por ordem dos herdeiros da Casa da Torre de Garcia de Ávila. As obras teriam sido realizadas pelos jesuítas com a ajuda de escravos.   Nessa época ainda não se tinha determinado a proibição da presença de Ordens religiosas regulares no território de Minas. Esta hipótese poderá ter alguma credibilidade dado que a casa original dos Garcia de Ávila ficava na Baía, em S. Francisco do Conde, bem perto do local onde a devoção ao Bom Jesus de Matozinhos, ainda com a denominação de Bom Jesus de Bouças, se concretizou também num templo, em finais do século XVII.
Uma outra lenda  garante que, ao lado dessas ruínas, estará enterrado o corpo do bandeirante Fernão Dias Pais, história que Olavo Bilac imortalizou no seu poemaO caçador de esmeraldas”.




                                             No ermo do Gauicuí
                                             com duras pedras sobre pedras
                                             perdura a igreja com suas perdas
                                             de ladainha inacabada.
                 
                                                                                                                          Libério Neves       

Todo o mistério que rodeia esta igreja inacabada e segura pelas raízes da gameleira que se agarrou às suas paredes impedindo a sua queda, chama muitos curiosos para o sentirem e compreenderem. Daí o aparecimento de guias que explicam a sua permanência no tempo e a descrevem aos turistas. Aqui vos deixo um momento desses pela boca de uma criança local.




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Para os brasileiros que tiveram a coragem de ler este blog, aqui deixo uma espantosa fotografia do interior da Igreja do Bom Jesus do Matosinhos português, obra prima do barroco e cujo esplendor se deve ao ouro brasileiro. Por critério do fotógrafo, Correia dos Santos, ela está fotografada a preto e branco mas nem por isso perde a sua beleza e brilho. Antes pelo contrário. Isso é motivo para atrair os nossos irmãos brasileiros a virem conhecer este monumento e a terra onde está situado 


Interior do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos da cidade de  Matosinhos, em Portugal

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 Como vimos ao longo deste trabalho, as primeiras notícias sobre o Bom Jesus de Matosinhos terão chegado ao Brasil muito precocemente, talvez mesmo antes das grandes fases de emigração do Reino para a colónia, levadas pela fé e temores dos marinheiros e aventureiros. A partir da segunda metade do século XVII, o seu culto impôs-se, organizou--se e concretizou-se em variados templos cuja maioria permanece ainda hoje aberta à veneração popular  e cujo conjunto forma um património artístico de notável importância. 
Normalmente são os factos históricos que constituem a estrutura da Memória dos homens e instituições, permitindo que o passado não se dilua ao longo das gerações. No caso sobre o qual me debrucei, o do culto ao Bom Jesus de Matosinhos, a sua permanência tem como suporte a fé que une, num sentimento único, se bem que revestindo formas de religiosidade bem diferenciadas, dois povos que, no aspecto devocional, o mar não separou. 


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A todos quantos tiveram o interesse e a paciência de ler este blog o meu muito obrigada. Esta foi uma promessa de matosinhense devota do nosso  Bom Jesus, a força  que me tem acompanhado ao longo de toda a vida. Representa ainda o meu contributo para o conhecimento e divulgação da sua devoção que, pelo mar onde apareceu, também partiu e se implantou nas terras longínquas do outro lado do Atlântico.